Ainda há dúvidas, ruídos e exageros quando o assunto são criptoativos, mas uma coisa é fato: essa classe de ativos já ocupa um espaço legítimo no cenário financeiro global. E dentro de um planejamento financeiro bem estruturado, faz sentido considerar uma alocação estratégica nesse tipo de ativo.
Criptoativos são representações de valor armazenadas de forma digital, registradas em blockchains – redes seguras, descentralizadas e imutáveis. Não existem fisicamente, mas têm valor de mercado, liquidez e utilidade. Entre eles estão criptomoedas como Bitcoin (BTC) e Ether (ETH); utility tokens que conferem aos detentores o direito de acesso a serviços ou produtos em uma plataforma específica; security tokens que representam ativos financeiros tradicionais como ações e títulos, e podem ser regulamentados como valores mobiliários; NFTs que são tokens únicos que representam itens digitais ou físicos exclusivos como obras de arte, itens de jogos e itens colecionáveis; e stablecoins que buscam manter um valor estável, geralmente atrelados a uma moeda fiduciária como o dólar.
O Brasil já está entre os países com maior volume de negociação de criptoativos, e a adoção segue em ritmo acelerado. A entrada de investidores pessoa física cresceu, corretoras digitais se consolidaram e instituições tradicionais passaram a oferecer acesso ao mercado. Além disso, o Banco Central testa o DREX, sua própria moeda digital, reforçando que estamos diante de uma nova fase da economia digital.
O marco legal dos criptoativos, sancionado em 2022 (Lei nº 14.478/22), trouxe mais segurança para o investidor e mais clareza para o mercado. Agora, empresas que atuam nesse setor precisam estar autorizadas e seguir diretrizes mínimas, o que contribui para separar projetos sérios de iniciativas sem lastro ou governança.
Como planejador financeiro, não recomendo modismos nem apostas. O objetivo é sempre buscar equilíbrio, eficiência e proteção do patrimônio ao longo do tempo. Nesse sentido, os criptoativos apresentam uma característica importante: baixa correlação com ativos tradicionais como ações e renda fixa. Isso significa que, mesmo com oscilações, eles tendem a se comportar de forma diferente em relação ao mercado convencional, o que pode contribuir para uma diversificação mais inteligente.
Por isso, faz sentido considerar uma alocação pequena — entre 1% e 2% do portfólio — em criptoativos, desde que respeitando o perfil de risco, o horizonte de tempo e os objetivos de cada investidor. Essa exposição controlada permite acessar os potenciais benefícios dessa nova classe sem comprometer a estrutura geral do planejamento.
Hoje já é possível investir com segurança no Brasil por meio de exchanges autorizadas, plataformas de bancos e corretoras tradicionais, fundos de criptoativos regulados pela CVM e ETFs listados na B3 como HASH11, QBTC11 e ETHE11, que replicam o desempenho de criptomoedas. O mais importante é investir apenas por canais regulados, com transparência e governança, evitando promessas de retorno fácil e plataformas sem credibilidade.
Ignorar os criptoativos hoje é como ter virado as costas para a internet nos anos 2000. Não se trata de uma moda passageira. Estamos diante de uma mudança estrutural. O mundo já é digital, e os investimentos seguem essa mesma direção. Mas essa transformação exige conhecimento, estratégia e responsabilidade. Os criptoativos podem e devem fazer parte de uma carteira bem planejada — desde que inseridos com critério e limites bem definidos.
*Coluna escrita por Carlos Castro, planejador financeiro pessoal, CEO e sócio fundador da plataforma de saúde financeira SuperRico
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